O ensino da língua portuguesa precisa considerar a
reflexão de suas utilidades para além das regras de uso. Uma complementa
a outra no ensino/aprendizagem. Ocorre que muitas vezes em
sala de aula a língua padrão é privilegiada pelos programas de ensino e na
verdade ela (a língua padrão) é mais uma forma de comunicação, não a única. Quando
pensamos em considerar não só o ensino, mas a aprendizagem, levamos em conta
que a bagagem do aluno deve ser somada ao que o programa de conteúdos pretende.
Ensino
O que o professor
tráz para a sala.
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Aprendizagem
Como o aluno
aprende, assimila e também as coisas que traz na sua bagagem.
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É claro que é na escola que se pretende apresentar aos
alunos conteúdos de ordem da gramática e ortografia (língua padrão), pois sem conhecer como codificar
e decodificar corretamente uma mensagem o aluno/cidadão ficará excluso dos
meios de convivência sociais, onde tudo é linguagem e comunicação. Quando
falamos que as regras da língua precisam estar para além da utilidade seca de
formulação de sentenças e frases repetidas, queremos dar importância também ao fato de que a linguagem
se faz no uso, justamente na reflexão. As regras não vieram do nada, e também
não estão apenas para o aluno responder a prova e tirar 10.
Exemplificando: nos ensinos anteriores o professor dava
conta de que o aluno decorasse listas infinitas de verbos infinitivos. Nessa aula
não há reflexão sobre o modo como os verbos estão organizados, em que contextos
são adequados (língua oral e escrita, contextos sociais e discursivos) e como o
aluno pode manipulá-los (experimentar) para produzir suas próprias mensagens.
É claro que o aluno irá precisar entender das regras, mas
primeiro precisa existir uma necessidade de se comunicar (emitir e receber
mensagens), as regras estarão como num cardápio de possibilidades que o aluno
com autonomia as utilizará para compor seus textos e produções.
Aliás, produzir com limite
máximo de linhas e parágrafos ou como conhecemos em piadas sobre esses ensinos
anteriores: “Escreva até tocar para hora da saída” não faz sentido.
O conceito do uso
> reflexão > uso é trazido pelos PCNs*, um material interessante de
orientações ao trabalho com a língua e LINGUAGEM. Nossos professores estudam esse
material e adequam a proposta de ensino da língua para o uso, mas também para a
reflexão.
As seguintes produções foram trabalhadas na turma de 2º ano do
ensino fundamental, o Professor Ricardo Rodrigues propôs uma atividade com
panfletos recolhidos no Moda Center em
Santa Cruz:
“Estive no Moda
Center e lá sempre recebemos muitos panfletos e propaganda impressa. Como trabalhamos
com os gêneros textuais para abordagem do conceito uso> reflexão > uso,
resolvi trazer o gênero PANFLETO para a sala.”
Resumindo: O trabalho conduzido polo Professor Ricardo
aconteceu da seguinte forma:
ENSINO
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APRENDIZAGEM
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RODA DE LEITURA
Apresentou os panfletos aos alunos e trouxe
questionamentos interpretativos: A que servem, o que comunicam, quem recebe
essa mensagem? A presença dos números no panfleto tem que utilidade?
O que é possível entender com cada anúncio
(interpretação)?
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Ao
mesmo tempo que apresenta um novo conteúdo (ensino) o professor considera o
que as crianças trazem para sala.
“O
homem que vende leite na minha rua poderia fazer um desses professor.”
“A
conta de luz é igual ao panfleto?”
“A
minha mãe tem um monte desses, mas é tudo de roupas.”
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Aqui o aluno entende como funciona o gênero panfleto ao mesmo tempo
em que elabora possibilidades de usar a ferramenta para também se comunicar
(autonomia e reflexão).
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PRODUÇÃO
Os alunos em outro momento são levados a produzir
também os seus panfletos. Cada um com necessidades diferentes de comunicar
algo.
O lúdico aparece aqui:
“Vamos brincar que somos donos de um supermercado, ou
de um salão de jogos, ou de uma oficina mecânica E QUE PRECISAMOS FAZER UM
PANFLETO PARA AVISAR A TODO MUNDO. COMO VAMOS FAZER?”
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ATIVIDADE
ESCRITA
Agora
os alunos irão produzir segundo os critérios de regras e conhecimentos que
receberam. A autonomia garantirá como vão combinar ao seu modo organizar a
mensagem e seus elementos.
O professor
acompanha a atividade, questionando o que pretendem fazer e como podem
escrever a ideia?
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O resultado obtido é maravilhoso e muito criativo. Nossos alunos produziram suas mensagens e criaram cada um seu empreendimento. Confira algumas produções.
Rafael anunciou sua Oficina de motos.
Afonso criou um panfleto para anunciar Loja de Diversão.
Com site na internet e tudo mais.
E que tal o Pet Shop de Geovana?
Muito bom heim!
Lorena inventou de ser cabeleireira e criar um
salão muito chic. Olha mesmo.
Apaixonada por ballet Pérola se tornou professora
e agora tem uma Escola de Ballet.
Depois de realizadas as atividades o professor avalia não apenas o obtido final, mas como as crianças realizaram, não basta ver quem fez e quem não fez, mas o aspecto qualitativo, como produziram, e mais uma vez as crianças são consideradas pois a correção acontece junto com eles, o professor propondo intervenções.
AVALIAÇÃO
Após desenvolver a
atividade o professor levou os textos com suas observações, para fazer
devolutivas às crianças:
· O que você quis dizer quando
escreveu isso?
· Existe outra palavra que possa
dizer a mesma coisa?
· Quando as pessoas lerem vão
entender o que você quis dizer?
· Essa palavra se escreve mesmo
dessa forma?
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** PCN significa Parâmetros Curriculares Nacionais, é um
documento elaborado pelo MEC que orienta quais os conteúdos e formas de
aplicação que a educação brasileira se orienta. Está disponível no www.mec.gov.br
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