02 setembro, 2013

Língua portuguesa uso e reflexão

O ensino da língua portuguesa precisa considerar a reflexão de suas utilidades para além das regras de uso. Uma complementa a outra no ensino/aprendizagem. Ocorre que muitas vezes em sala de aula a língua padrão é privilegiada pelos programas de ensino e na verdade ela (a língua padrão) é mais uma forma de comunicação, não a única. Quando pensamos em considerar não só o ensino, mas a aprendizagem, levamos em conta que a bagagem do aluno deve ser somada ao que o programa de conteúdos pretende.


Ensino
O que o professor tráz para a sala.

Aprendizagem
Como o aluno aprende, assimila e também as coisas que traz na sua bagagem.
  

É claro que é na escola que se pretende apresentar aos alunos conteúdos de ordem da gramática e ortografia (língua padrão), pois sem conhecer como codificar e decodificar corretamente uma mensagem o aluno/cidadão ficará excluso dos meios de convivência sociais, onde tudo é linguagem e comunicação. Quando falamos que as regras da língua precisam estar para além da utilidade seca de formulação de sentenças e frases repetidas, queremos dar importância também ao fato de que a linguagem se faz no uso, justamente na reflexão. As regras não vieram do nada, e também não estão apenas para o aluno responder a prova e tirar 10.

Exemplificando: nos ensinos anteriores o professor dava conta de que o aluno decorasse listas infinitas de verbos infinitivos. Nessa aula não há reflexão sobre o modo como os verbos estão organizados, em que contextos são adequados (língua oral e escrita, contextos sociais e discursivos) e como o aluno pode manipulá-los (experimentar) para produzir suas próprias mensagens.

É claro que o aluno irá precisar entender das regras, mas primeiro precisa existir uma necessidade de se comunicar (emitir e receber mensagens), as regras estarão como num cardápio de possibilidades que o aluno com autonomia as utilizará para compor seus textos e produções.

Aliás, produzir com limite máximo de linhas e parágrafos ou como conhecemos em piadas sobre esses ensinos anteriores: “Escreva até tocar para hora da saída” não faz sentido.

O conceito do uso > reflexão > uso é trazido pelos PCNs*, um material interessante de orientações ao trabalho com a língua e LINGUAGEM. Nossos professores estudam esse material e adequam a proposta de ensino da língua para o uso, mas também para a reflexão.

As seguintes produções foram trabalhadas na turma de 2º ano do ensino fundamental, o Professor Ricardo Rodrigues propôs uma atividade com panfletos recolhidos no Moda Center em Santa Cruz:

“Estive no Moda Center e lá sempre recebemos muitos panfletos e propaganda impressa. Como trabalhamos com os gêneros textuais para abordagem do conceito uso> reflexão > uso, resolvi trazer o gênero PANFLETO para a sala.”

Resumindo: O trabalho conduzido polo Professor Ricardo aconteceu da seguinte forma:

                  ENSINO                         
             APRENDIZAGEM              

RODA DE LEITURA
Apresentou os panfletos aos alunos e trouxe questionamentos interpretativos: A que servem, o que comunicam, quem recebe essa mensagem? A presença dos números no panfleto tem que utilidade?

O que é possível entender com cada anúncio
(interpretação)?



Ao mesmo tempo que apresenta um novo conteúdo (ensino) o professor considera o que as crianças trazem para sala.

“O homem que vende leite na minha rua poderia fazer um desses professor.”

“A conta de luz é igual ao panfleto?”

“A minha mãe tem um monte desses, mas é tudo de roupas.”
Aqui o aluno entende como funciona o gênero panfleto ao mesmo tempo em que elabora possibilidades de usar a ferramenta para também se comunicar (autonomia e reflexão).

PRODUÇÃO
Os alunos em outro momento são levados a produzir também os seus panfletos. Cada um com necessidades diferentes de comunicar algo.

O lúdico aparece aqui:
“Vamos brincar que somos donos de um supermercado, ou de um salão de jogos, ou de uma oficina mecânica E QUE PRECISAMOS FAZER UM PANFLETO PARA AVISAR A TODO MUNDO. COMO VAMOS FAZER?”


ATIVIDADE ESCRITA
Agora os alunos irão produzir segundo os critérios de regras e conhecimentos que receberam. A autonomia garantirá como vão combinar ao seu modo organizar a mensagem e seus elementos.

O professor acompanha a atividade, questionando o que pretendem fazer e como podem escrever a ideia?

O resultado obtido é maravilhoso e muito criativo. Nossos alunos produziram suas mensagens e criaram cada um seu empreendimento. Confira algumas produções. 
Rafael anunciou sua Oficina de motos.
Afonso criou um panfleto para anunciar Loja de Diversão. 
Com site na internet e tudo mais. 
E que tal o Pet Shop de Geovana? 
Muito bom heim! 
 Lorena inventou de ser cabeleireira e criar um 
salão muito chic. Olha mesmo.
Apaixonada por ballet Pérola se tornou professora
e agora tem uma Escola de Ballet.

Depois de realizadas as atividades o professor avalia não apenas o obtido final, mas como as crianças realizaram, não basta ver quem fez e quem não fez, mas o aspecto qualitativo, como produziram, e mais uma vez as crianças são consideradas pois a correção acontece junto com eles, o professor propondo intervenções. 


AVALIAÇÃO
Após desenvolver a atividade o professor levou os textos com suas observações, para fazer devolutivas às crianças:
·  O que você quis dizer quando escreveu isso?
·  Existe outra palavra que possa dizer a mesma coisa?
·  Quando as pessoas lerem vão entender o que você quis dizer?
·  Essa palavra se escreve mesmo dessa forma?


** PCN significa Parâmetros Curriculares Nacionais, é um documento elaborado pelo MEC que orienta quais os conteúdos e formas de aplicação que a educação brasileira se orienta. Está disponível no www.mec.gov.br

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